Sobre o Xamanismo

Para Aprender Sobre o Xamanismo


Para melhor compreender as vivências dos xamãs precisamos entender seu universo.


O mundo do xamã está disposto em três camadas: a superior, a intermediária e a inferior. Os mundos superior e inferior podem ser compostos por múltiplas camadas, tornando os xamãs “viajantes cósmicos” por serem capazes de atravessar esses múltiplos mundos e níveis. Como bem assinala Mircea Eliade:


“A técnica xamânica de maior destaque é a passagem de uma região cósmica para outra, da terra para o céu ou para o mundo inferior. O xamã conhece o mistério de romper as limitações do plano espacial. Essa comunicação entre zonas cósmicas é possibilitada pela própria estrutura do Universo”.


Para uma viagem até o mundo inferior, o xamã costuma visualizar-se entrando na terra. O acesso pode ser feito por imagens de cavernas, tocos abertos de árvores, poços, túneis. O xamã se vê entrando no buraco e mergulhando no fundo da terra até emergir num outro mundo com cenários iluminados, maravilhosos. Assim que se encontra no mundo inferior, o xamã inicia a fase seguinte da sua missão, que pode ser qualquer coisa, desde obter informações de cura para recuperar almas perdidas até apaziguar espíritos irados. O mundo inferior é, em geral, um local de testes e desafios, mas é também um lugar em que os animais de poder são adquiridos e em que o xamã é dirigido e fortalecido para vencer. É nesse mundo que empreendemos as Jornadas do Animal de Poder.


O mundo superior é um lugar em que os mestres e guias pessoais podem ser encontrados e as viagens são particularmente vivências de êxtase. Essa viagem, na maioria das vezes, começa numa área elevada, como uma montanha, um alto de uma árvore ou penhasco e dali o xamã visualiza-se subindo ao céu. Nesse mundo fazemos a Jornada em busca do Guia Pessoal.


O mundo intermediário é o nosso mundo conhecido. Em suas visões, os xamãs viajam por ele à vontade, sem impedimentos representados por barreiras ou distâncias, vendo longe e amplamente, regressando com informações acerca de caça, clima e questões de guerra. Nesse mundo fazemos a Jornada do Lugar de Poder.


Os xamãs preferem o realismo. Para eles, “a mente é usada para ter acesso, para atravessar por uma porta e ingressar em outra realidade que existe independentemente da mente”, como descreve Michael Harner.


Para os elementos da tribo dos xamãs, o cosmo de múltiplas camadas é uma crença, um mito e um artigo de fé. Para os xamãs é uma experiência mística direta, concreta. Só eles as atravessam e transformam a cosmologia num mapa pessoal de viagem.


 Em síntese, o que define o xamanismo são suas técnicas e as vivências que desencadeiam e permitem aos seus praticantes chegar à sua própria conclusão. Como destaca Michael Harner:


“Em última análise, o xamanismo é só um método, não uma religião com um conjunto fixo de dogmas. Portanto, as pessoas chegam às suas próprias conclusões com base em suas experiências, a respeito do que está acontecendo no universo e no sentido de saber se existe algum termo que seja mais útil para descrever essa realidade essencial”.


O xamanismo é uma estratégia pessoal, transcultural e milenar para ter acesso ao poder e autoconhecimento. Exige apenas disciplina e prática, podendo ser utilizado por qualquer pessoa, se assim desejar. Não existe hierarquia, nem dogmas. Algumas coisas que precisamos saber:


1.   O eixo central do xamanismo é a viagem xamânica ou vôo da alma. O xamã se especializa num “transe” durante o qual sua alma supostamente deixa o corpo e começa a vagar, segundo sua vontade, pelas amplitudes dos mundos superior, intermediário e inferior, sempre resguardado por seu espírito guardião. Este “transe” é denominado Estado Alterado de Consciência (EAC) ou Estado Xamânico de Consciência (EXC). Hoje se sabe que existem muitas variedades de estados alterados. Existem aqueles que estamos acostumados, como sonhos, fadiga e hipnose e os patológicos, como os de pânico, paranóia e esquizofrenia. Além desses, existem os estados alterados induzidos por várias práticas religiosas e místicas. Neste se insere o Estado Xamânico de Consciência (EXC). Embora não seja um elemento essencial ao xamanismo, o uso de psicodélicos ou ervas de poder, como peiote ou aiuasca, é utilizado em algumas áreas. Porém o toque do tambor tem se mostrado eficiente para se atingir o EXC de forma lúcida e eficaz.


 Faz-se necessário deixar clara a distinção entre o Estado Xamânico de Consciência (EXC) e o Estado Comum de Consciência (ECC), ou entre a realidade incomum e a realidade comum como fala Castañeda. A prática xamânica requer um certo grau de alteração da consciência. Um xamã pode parecer que está atuando num estado lúcido, quando, na realidade, sua mente está ocupada com visões interiores. É em EXC que se pode “ver” xamanicamente. Isso pode ser chamado de “visualização”, “imaginação” ou, como dizem os aborígenes australianos, usando “o olho forte”. Normalmente o EXC permite plena recordação da experiência quando o xamã retorna ao ECC. Em EXC, parte da consciência do xamã fica ainda levemente ligada à realidade comum do ambiente físico ou material onde ele se encontra. Como o seu transe é leve, a batida do tambor é muitas vezes mantida para que se conserve o EXC. Se o tambor se cala, ele pode voltar rapidamente ao ECC.


O Estado Alterado de Consciência (EAC), componente do EXC, inclui vários graus de transe, por exemplo: Estado de Inspiração, Ver e Ouvir espíritos (clarividência e clariaudiência), o Vôo Xamânico (projeção da consciência), entre outros. O primeiro ponto para o desenvolvimento das práticas visionárias xamânicas seria, no contexto das tribos, o uso da imaginação, da visualização curadora, da vontade de realização (disciplina), da meditação xamânica, da conexão profunda e assim despertar a Visão Ampla, aquela que vê além.


2.   Rituais, cerimônias, cantos, danças, o som do tambor e do chocalho aumentam a sua capacidade de abrir as portas para o mundo espiritual;


O tambor e o chocalho constituem instrumentos básicos e importantes para ingressar no EXC. O som repetido do tambor produz modificações no sistema nervoso central, afetando a atividade elétrica, em muitas áreas sensitórias e motoras do cérebro. A batida ritmada faz com que baixe as ondas cerebrais e entremos em um estado alterado de consciência pelo fato de que a batida do tambor contém muitas frequências de sons e, em consequência, transmite simultaneamente impulsos ao longo de diversas vias nervosas do cérebro.


3.   Entradas ou túneis para o mundo espiritual podem ser abertas com a utilização de técnicas xamânicas especiais;


4.   Imaginação, concentração e vontade são os veículos que abrem esses túneis para o mundo espiritual;


5.   Para fazer a viagem ao mundo espiritual é fundamental um espírito guardião, aliado ou animal de poder como guia e conselheiro, bem como saber utilizar locais de poder e objetos de poder para aumentar a eficiência pessoal.



 Por Jose Stevens e Lena S. Stevens, seguem-se algumas dicas de como avaliar e selecionar os melhores mestres para ajudá-lo em seu caminho como curador. Sugerimos procurar um mestre que:


Tenha um bom senso de humor.


Ajude-o a rir de sua personalidade cheia de si.

Saiba brincar.

Tenha uma presença marcante.

Demonstre respeito por todas as coisas vivas.

Demonstre respeito pelo meio ambiente.

Tenha amor próprio.

Demonstre compaixão ou bondade.

Seja capaz de dizer a verdade e ser direto.

Seja capaz de ensinar através do próprio exemplo.

Tenha uma visão “estamos todos juntos nisto”.

Seja inclusivo e não exclusivo.

Tenha uma boa reputação.

Permita erros.

Não seja perfeito.

Seja flexível.

Não tenha medo das emoções.

Sugerimos evitar um “mestre” que:

Tenha uma atitude superior.

Exclua membros de qualquer raça ou grupo cultural.

Expresse um ponto de vista “nós x eles”: “Eles querem nos pegar” ou “Nós somos melhores”.

Seja fanático.

Tenha a visão curta.

Seja agressivo ou violento.

Seja insensível.

Seja excessivamente sério.

Tenha uma visão “Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”.

Consuma drogas ou beba em demasia.

Seja insinuante.

Seja controlador.

Critique ou boicote por questionar.

Ensine depreciando ou fazendo-o de exemplo na frente de todos.

Tenha muita ambição por dinheiro.

Tenha assistentes, grupos ou alunos veteranos cuja atitude é inadequada e aos quais você deve obedecer.

Acredite ser a forma do ritual mais importante do que os resultados.

Finja ser perfeito.

Seja excessivamente idealista e nada prático.


 

Acreditamos que somos co-criadores, juntamente com este Grande Espírito do qual somos parte. Que todos possam trilhar o caminho da verdade, da beleza, do amor e do poder.



Trechos dos livros:

Harner, Michael. O Caminho do Xamã, Um Guia de Poder e Cura. São Paulo: Cultrix, 1995.


Stevens, Jose e Stevens, Lena S. Os Segredos do Xamanismo, Libertando o Poder Espiritual Que Está Dentro de Nós. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 1988.


Walsh, Roger N. O Espírito do Xamanismo, Uma Visão Contemporânea Desta Tradição Milenar. São Paulo: Editora Saraiva, 1993.



* Por: Clarissa Bandeira

Conceitos Xamânicos

Intento: O intento refere-se à força vital ou à energia direcionada que uma pessoa canaliza para realizar uma ação específica. É a vontade consciente e focada que impulsiona a pessoa a buscar seus objetivos e moldar sua realidade. No contexto xamânico, o intento é considerado uma ferramenta fundamental para influenciar e moldar a realidade de acordo com a vontade do indivíduo.


Espreita: A espreita é um conceito central nas obras de Carlos Castaneda. Refere-se à capacidade de observar e perceber a realidade além do que normalmente se considera possível. Envolve a prática de uma atenção aguçada aos detalhes, uma consciência ampliada e uma habilidade para romper os limites da percepção comum. Através da espreita, é possível acessar outras camadas da realidade e compreender aspectos ocultos do mundo ao nosso redor.


Sonho: No contexto das obras de Castaneda, o sonho não se refere apenas à experiência durante o sono, mas também a uma dimensão da realidade que é acessada através da prática do sonhar lúcido ou da consciência no sonho. Segundo Castaneda, o sonho é considerado um estado de consciência no qual é possível explorar e interagir com outras realidades, obter insights e conhecimentos profundos e realizar ações que influenciam a realidade desperta.


Ponto de aglutinação: O ponto de aglutinação é um conceito chave na cosmologia xamânica de Castaneda. Refere-se a um ponto energético dentro do campo de energia de um indivíduo, que é responsável pela organização da realidade percebida. O ponto de aglutinação atua como uma espécie de filtro ou lente que determina como o indivíduo percebe o mundo ao seu redor. Através de práticas xamânicas, como a espreita e a manipulação do intento, é possível mover o ponto de aglutinação e alterar a percepção da realidade, abrindo caminho para novas experiências e entendimentos.


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